Justiça vesga
Ao Fim e ao Cabo
Justiça vesga
Pior do que uma Justiça cega, que não olha a quem, só uma Justiça vesga, que só vê metade.
Por:Manuel Catarino, redator principal
O guarda José Pinto matou um assaltante em fuga - e foi condenado no tribunal de Ponte de Sôr numa pena suspensa por negligência grosseira.
Pior sorte teve o guarda Hugo Ermano: também disparou contra um carro em fuga e, por azar, matou uma criança de 12 anos que o pai tinha levado para o assalto. Foi punido no Tribunal de Loures com uma pena de nove anos de cadeia por homicídio doloso. Quer dizer que o Tribunal de Loures deu como provado que Hugo Ermano, ao disparar, previu a morte de um dos ocupantes do carro e quis mesmo tirar-lhe a vida. A convicção do tribunal é excessiva.
Condenar brutalmente um guarda que atira contra o porta-bagagens de um automóvel de assaltantes em fuga é um perigoso convite à inação de todos os polícias.
Elmano foi negligente? Não há dúvida. Foi tão negligente como o seu camarada José Pinto. Um apanhou pena suspensa, outro foi condenado a nove anos de prisão. Só não está preso, na companhia do imbecil que treinava o filho nas artes do assalto, porque recorreu do acórdão.
Pior do que uma Justiça cega, que não olha a quem, só uma Justiça vesga, que só vê metade.
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